Quiosque que funcionou na Praça Saldanha Marinho, de 1909 a 1922 Fonte: Cartão Postal da Union Postale Universelle
Calor em Santa Maria, aquela vontade de beber num ambiente agradável, você bate o olho no cardápio e vem aquela dúvida: IPA, Red Ale, Stout, Pale Ale, Helles, Lager, etc.. servidas em torneiras, são chope ou cerveja? Esta dúvida é muito recorrente, e, aliás, entendo como um assunto mal resolvido, que pretendo ajudar a esclarecer.
A palavra "chopp", deriva do substantivo alemão 'schoppen', que por sua vez deriva do francês 'chopine' que significa caneca de aproximadamente meio litro em idioma arcaico, atualmente em desuso, logo nem na Alemanha provavelmente entenderão o significado.
Agora, pense na seguinte cena: século 19, um grupo de imigrantes alemães pedindo 'ein schoppen' e recebendo canecas de cerveja num bar, sendo observados por brasileiros, que prontamente passaram a repetir tais palavras, pois elas faziam o garçom trazer-lhes a bebida desejada em copos, servidas de torneiras e não em garrafas. Não precisa muito para se imaginar como nasceu a distinção entre o que é chope e o que é cerveja!
Vamos a um detalhe um pouco mais técnico. A cerveja servida nas torneiras sempre foi mais atrativa que as das garrafas, pois o processo de pasteurização, que garante que a cerveja suporte temperaturas ambientes, podendo ser transportada e armazenada fora de câmaras frias e geladeiras, sem estragar, altera o sabor e tira o frescor, pois as leveduras remanescentes são 'abatidas' durante o processo. Pronto! Com o passar dos anos passamos a convencionar que a cerveja servida em torneiras, não pasteurizada, não é mais cerveja, e sim chope.
Como chamar de chope, 28 diferentes cervejas vendidas em torneiras em um dos bares especializados de Santa Maria?
No Brasil, por várias gerações essa tradição de chamar a cerveja de torneira de chope se manteve. Esse entendimento trazia outra consequência: pensar que a cerveja era uma coisa só, cujo sabor pouco variava conforme a marca, sendo vendida, pasteurizada em garrafas e em alguns casos sem pasteurização em barris.
Por sinal, até na Praça Saldanha Marinho houve, de 1909 a 1922 um quiosque, o "Chopps", que segundo a Cronologia Histórica de Romeu Beltrão, foi destruído por um incêndio que começou com um curto-circuito e atingiu seu prédio de madeira.
Entra em cena a cerveja artesanal
O surgimento do movimento da Cerveja Artesanal veio para mostrar não apenas que cerveja não é tudo igual. Um dos seus alicerces é o resgate de estilos esquecidos e o desenvolvimento de novos. Assim, começaram a aparecer torneiras com cervejas muito diferentes, dos mais diversos sabores e o conceito estabelecido pela sabedoria popular entrou em xeque: "como pode ser um chope tão forte?", "esse chope é vermelho!", "o chope do fulano é muito amargo!", "no bar tal tem um chope belga", e, a dúvida mais comum: "mas isso é cerveja ou é chope?". Criou-se a confusão!!
Mas, então, você vai me perguntar: Denys, tudo então é cerveja? Sim, tudo é cerveja. Por definição, todo fermentado de cereais, com adição de lúpulo, é cerveja. O guia de estilos da American Brewers Association atualmente lista 156 diferentes estilos, com variações brutais de aroma e sabor. Alguns, talvez a maioria deles, não requer pasteurização para ser acondicionado em garrafas, outros são refermentados na garrafa.
Agora, uma aposta: acredito que no Brasil, com o passar dos anos, passaremos a utilizar a expressão 'cerveja na torneira' e restringiremos a palavra chopp ou chope à cerveja leve, servida em eventos festivos.
Quer trocar uma ideia sobre o tema? Te espero no dscoelho@macchina.com.br.